A “businesswoman”: onde come? Como dorme? Onde vive? Leia aqui e não te damos aquela resposta!

Quando conversamos sobre empreendedorismo o tópico de convergência a se tratar é a dificuldade para encontrar mulheres empresárias. O principal motivo apontado é que nós, mulheres empresárias, não participamos de eventos e por isso não fazemos networking, assim fica mesmo difícil nos encontrarmos por aí. A empresária  Paula Bromfman Puppi,  sócia e CEO da  Blinks, empresa de comunicação e publicidade, afirma em um artigo da endeavor que de acordo com um estudo do Business Insider, as mulheres recebem apenas 4,2% dos fundos de Venture Capital. E outra pesquisa, realizada pela própria Endeavor com a UNCTAD, Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, reforça que mulheres participam menos de associações e entidades de classe do que homens.

ESSES DADOS PODEM TRADUZIR UMA PARTE DA NOSSA ROTINA EXECUTIVA, MAS SABE O QUE ESSES DADOS NÃO MOSTRAM?

É que sim, o networking está sempre presente na vida das mulheres empreendedoras. Mas não o mesmo networking que os círculos de negócios estão acostumados. Olha só que interessante, nossa rede é recheada de professoras da escola das crianças, de mães dos amigos dos nossos filhos, de pediatras e até mesmo de babás da vizinhança.

O CENÁRIO PODE SER DIFERENTE. MAS LEMBRE-SE, DE ALGUMAS E VAMOS FALAR DELAS

A mulher empreendedora vezes muitas é mais velha que o homem empreendedor. Ela esperou nascerem os filhos, eles crescerem um pouco e aí sim mergulhou em sua carreira. Mas isso traz junto uma carga que talvez seja de difícil entendimento para os homens em geral e praticamente impossível para os jovens de startups e aceleradoras, daí surgem os dados e a falta de empatia para com a realidade da mulher que resolve empreender.

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VEJA QUE INTERESSANTE É UMA ROTINA COMUM DA MULHER EMPREENDEDORA: 

APÓS VESTIR QUALQUER COISA POR CIMA DO PIJAMA, ouvir seu nome e apelidos umas 50 vezes

manhê cadê meu tênis? ”, “manhê, não consigo prender meu cabelo ”, “ amor, que horas é o balé hoje? ”, “ e a natação, amor?”, ela consegue partir para a escola.

Voltar para casa depois disso é uma dádiva. Ter tempo para tomar banho e se arrumar com calma, faz o dia certamente começar muito melhor, pena que nem sempre isso é possível.

Já no caminho do trabalho, liga uma colega mãe e pergunta:

você já comprou a roupa pra festa na escola?

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Aí a #empreendedora puxa lá no fundo da memória que festa seria essa, consegue lembrar, mas daí para saber que tinha uma roupa especial existe um Everest no caminho. E então ela telefona para a escola e pergunta que roupa é essa que precisaria comprar. Descobre em cima da hora que não terá tempo de ir atrás disso e, graças ao seu #networking com as mães, que agora são também suas amigas, irmãs, motoristas e tudo mais que ela precisa, resolve o problema da roupa pedindo para que quando fossem comprar para seus filhos, comprassem para os seus também.

Ufa! Finalmente o dia começa, não antes da colaboradora de casa lembrá-la com veemência que acabou o sabão em pó e que  deste jeito não ia dar pra lavar a roupa hoje. Bate o desespero, mas não pode perder muito tempo, precisa da solução prática e rápida. Então a empreendedora, que nunca tem um tostão na carteira, leva a funcionária ao caixa automático da esquina para tirar um dinheiro para que ela possa ir ao mercado. Claro que agora não serão mais R$ 14,98 do sabão (sim, nós sabemos o preço do sabão em pó), agora ela irá comprar mais “umas coisinhas” que estão faltando também. Mas aqui o foco é outro.


AGORA SIM! UFA! TRÊS, QUATRO HORAS DE TRABALHO SEM INTERRUPÇÃO! (PARABÉNS, MULHER!) TODOS OS PROBLEMAS DE CLIENTES, PAGAMENTOS, FUNCIONÁRIOS, SÃO PLENAMENTE PENSADOS, PLANEJADOS E SOLUCIONADOS.

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Até que chega o horário do almoço. Aquele horário que os empreendedores comuns saem para almoçar e fazer, como é mesmo o nome daquilo? Ah sim, NETWORKING!

Pois é, coincidentemente as mulheres que eu conheço que tem cargos executivos não gostam de sair para almoçar. Gostam mesmo de comer qualquer coisa rápida, de preferência na mesa, utilizando este intervalo de valioso silêncio para responder e-mails, pagar contas e planejar a agenda de casa, incluindo marcação de consultas e verificar, por telefone, a agenda das crianças.

Pois é, com o dia seguindo normalmente, o único telefonema que ela irá receber quando as crianças voltarem da escola será: o fulaninho me bateu! Comentário que ela fingirá dar toda a atenção, esquecerá 5 minutos depois e sentirá que é a pior mãe do mundo quando não lembrar disso a noite. 

Daí então o dia passa: balé, reunião, futebol, controle de vendas, natação, entrevista com estagiário novo, inglês, treinamento gerencial, o fulaninho me bateu, (aí ela fica confusa se foi outro fulaninho ou o mesmo). Acredite, leitor, tudo isso já está na rotina e na logística caótica que a empreendedora administra diariamente.

Se tudo correr bem, nenhuma rede de contatos mais precisará ser ativada. Mas com crianças pequenas, bom, a gente nunca sabe. Vamos para aquele dia em que um voltou da escola com dor de garganta ou o outro em que o menor está passando mal. Aí a empreendedora irá ativar toda a rede das amigas, das funcionárias do lar, dos médicos e de todo mundo que der brecha para ajudá-la. Pois ela terá que refazer toda a agenda do dia e resolver o problema mais importante: a saúde dos pequenos. Sim, é a mais importante e ela nem pensa. Talvez, se tudo correr bem no hospital, ela leve a agenda, computador e carregador e quando tiver cinco minutos tentará salvar o mundo dali mesmo, ao lado do pé da cama onde o pequeno toma soro.

Agora veja que interessante é entender esta rotina para imaginar encontrar estas mulheres de sucesso. Pois é, adequar os horários de eventos é apenas uma das necessidades.

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O levantamento da UNCTAD, segundo endeavor, aponta que são elas que trazem mais inovação ao setor de serviços (agora dá pra ter uma noção do porquê disso, né?), área que já responde por 60% do PIB do país, isso lá em 2013, e apresenta maior potencial de crescimento. Então se quisermos realmente investir neste crescimento, precisaremos de um esforço extra para encontrar estas mulheres, fazendo visitas pessoais e não implementando ainda mais compromissos em suas agendas. Apenas cobrar a presença delas, sem dar uma solução ou ter a empatia de entender a sua rotina, não vai mudar a realidade de que elas estejam fora do circuito tradicional de networking. 

Caramba, mas e o happy hour? Não dá para pelo menos nesta hora participar de algum evento?” Digam-me, o que tem de mais  happy  às oito da noite, que sentar no sofá para assistir  Horseland  com um filho de cada lado?

Mas sim, nas férias, quando os empreendedores normais programaram aquela viagem de negócios para estreitar os laços com os parceiros, nós conseguimos uma folguinha quando as crianças vão para a casa da avó ou daquela tia divertida, e ainda assim a mulher empreendedora invisível escuta alguns comentários sobre o trabalhar muito e deixar os filhos de lado. É mole? Mas isso fica para outro texto. E se caso você passa por alguma coisa desse tipo, não se preocupe e nem se sinta sozinha, estamos em um mundo de transição, todas nós, mulheres, passamos por isso e devemos sim, encontrar soluções práticas e não nos sentirmos sozinhas nessa jornada.

Sororidade, empatia e união são os sentimentos que dão base para a mudança emergente. Próximo passo? Parar de escutar “como a gente administra tudo”.