Mulher, quem cuida da felicidade do seu Natal?

#MULHER, A SUA LISTA DE TAREFAS PARA O FIM DE ANO PARECE NUNCA ACABAR?

A SUA REALIDADE É

de tentar não pirar com presentes, enfeites, festas a organizar, providenciar comes e bebes, convidados e se cria tiver ainda tem aquela rematrícula e lista de material com livros? Ah, mas e a roupa da semana para lavar? Já providenciou? Anota em um post it de ver pelo menos aquela calcinha ou sutiã que prometeu não deixar de comprar esse ano.

Pois é, se essa não for a sua realidade é de pelo menos 40% das mulheres todo final de ano. Exatamente!

Mesmo com uma crescente conscientização, nos últimos anos, para uma melhor divisão, entre homens e mulheres, das tarefas domésticas não remuneradas, também temos as tarefas mais sutis, despercebidas e não recompensadas que as mulheres assumem: o que chamamos de “trabalho emocional”.

A socióloga Arlie Hochschild utilizou o termo “trabalho emocional” em seu livro de 1983, The Managed Heart. Ela usou para definir a ideia de que um trabalhador deveria manipular seus sentimentos para se adequar aos requisitos de um trabalho

“O trabalho emocional é o trabalho pelo qual você é pago, o que envolve, centralmente, tentar sentir o sentimento certo pelo trabalho. E isso envolve evocar e reprimir sentimentos. Como uma comissária de bordo que deve sempre dispor de um ótimo carisma e sorriso.”

— DISSE ELA AO ATLANTIC.

Hochschild ainda acrescentou: Eu acho que gerenciar a ansiedade associada a tarefas obrigatórias é trabalho emocional“.

E hoje, o termo “trabalho emocional” evidencia uma extensão extra do significado original enfatizando o trabalho não remunerado exercido pelas pessoas, principalmente, as mulheres. Onde deve-se evidenciar um bem social em detrimento do bem estar emocional pessoal, gerando assim ansiedade e até problemas maiores.

TERCEIRO TURNO: TRABALHO EMOCIONAL DA MULHER

Ele é paralelo ao “segundo turno”: as mulheres com trabalho remunerado, quando saem dele e retornam para suas casas, ainda encontram um terceiro turno que é menos reconhecido. Aqui mora a carga mental do planejamento de compromissos sociais, atividades da família, lembrar de manter contato com professores e outras mães, fazer de tudo para deixar as lições de casa em dia, e quando chega o final de ano essa carga recebe a decoração de Natal e organização da logística de viagens, comidas, confraternizações, reunião familiar e hora de dormir.

TANTO O SEGUNDO E TERCEIRO TURNO SÃO TAREFAS NÃO REMUNERADAS

A Office for National Statistics confirmou que quando se trata de tarefas não remuneradas em casa, as mulheres estão fazendo em média quase 40% a mais do que os homens. Homens em média utilizam 16 horas por semana ajudando em casa em comparação com 26 por mulheres, isso sem considerar o período das que possuem licença maternidade.

Grifa-se o termo “ajudar” por ainda soar meio estranho, sabendo-se que se trata de um adulto que mora em uma casa e que teria (em teoria) as mesmas responsabilidades que a mulher, todavia ainda se coloca na posição de AJUDAR a “dona da casa”.

Mas existe sim uma atividade não remunerada que os homens acabam se dedicando um pouco mais: o responsável pelo transporte – isso inclui dirigir para si mesmo, como deslocamento do trabalho, e para os outros membros da família.

Se olharmos para o status econômico, estudantes em período integral fazem o mínimo de trabalho não remunerado, enquanto as mães em licença de maternidade fazem o máximo. Fato mostrado pela ONS que representa em torno de aproximadamente 56% do  Produto Interno Bruto (PIB) .

Embora, hoje, estenda-se o termo para além do domínio original do emprego remunerado, ainda pode ser útil pensar especificamente sobre o “trabalho emocional” que as mulheres realizam no Natal, que envolve administrar, reprimir ou realizar suas emoções a fim de garantir a felicidade de todos os outros.

A psicóloga de relacionamento Susan Quilliam descreve isso como a “dança emocional do Natal”. Ela diz:

“Para administrar suas emoções, muitas vezes as mulheres colocam suas próprias necessidades de lado com tanta convicção, que até elas esquecem de que possuem necessidades pessoais. Isso não é ser fraca ou vulnerável. Mas chega uma hora que elas sentem fúria, irritação ou tristeza profunda. É um problema para qualquer pessoa que se dedica a trabalhar emocionalmente para outra, pois chega um momento em que você só precisa cuidar de si mesmo, além de cuidar de outras pessoas.”


Outra pesquisa “curiosa” (ainda dá agonia essa naturalização) foi realizada esse ano onde constatou-se que até 62% dos homens vão procurar desesperadamente “o tempo do eu” durante as festas de fim de ano.

A pesquisa evidenciou como melhor presente, para pelo menos 62% dos homens, umas 11 horas longe da família, onde ele prefere dividir esse tempo entre programas de TV, filmes e séries.

Quando achamos ser algo não programado vem a pesquisa e nos revela também as frases que eles pretendem usar:

Em primeiro lugar temos “eu preciso de um cochilo” com 22% das intenções de votos.

Seguida de: “preciso ir ao banheiro” com 17%

E na lanterna temos: “tô com dor de cabeça” com 14% das intenções.

Na lista ainda encontramos o clássico: “me atrasei por causa do trabalho” e as doenças como viroses e estomacais que, pelo visto, atacam mundialmente os homens nesse período. Assim a gente pode começar a excluir qualquer margem de “acerto”.

16% dos homens ainda preferem ir ao pub para evitar tarefas como arrumar ou lavar a louça.

Quem não, né?!

Mas sabe o mais intrigante? É que no final a pesquisa nos fala que não há sentimento de culpa dos homens que tiram esse “tempo do eu”. Pelo contrário, há uma sensação de paz e tranquilidade. No lugar da culpa, eles desejam ir além e, em algumas gerações, pode ser constatada uma espécie de tradição nesse costume. Com toda certeza você já viu em algum lugar as casas que possuem o “espaço do homem” ou algo similar.

E assim se prolifera os versos de Anitelli, onde ‘a cria que se crie. A dona que se dane.’


Eleanor Taylor, pesquisadora da Natcen, que conduz a pesquisa de Atitudes Sociais Britânicas, disse que os resultados do ONS não foram “surpresa”. Ela disse que, apesar do apoio às divisões tradicionais de trabalho por gênero nos últimos 30 anos, ainda há um apoio substancial para que as mulheres tenham o principal papel de cuidados do lar e da família.

Oriel Sullivan, professor de sociologia de gênero na Universidade de Oxford, disse que três barreiras impedem a mudança no equilíbrio de papéis em casa: a ideologia de gênero, a política do governo e o local de trabalho. São três pontos que devem ser reconsiderados para se fazer provisões concretas a respeito desse equilíbrio.

AS DESCOBERTAS SEGUEM EM OUTRAS PESQUISAS RECENTES SOBRE A DIVISÃO DO TRABALHO NO LAR:

Em março, uma pesquisa da Oxfam concluiu que as mulheres que moravam com seus parceiros passavam uma média de dois dias úteis por mês a mais do que os homens em tarefas domésticas e com filhos.

Dois acadêmicos da Universidade de Oxford, em agosto, descobriram que as mulheres fazem 74 minutos a mais de trabalho doméstico por dia do que os homens, depois de analisar 50 anos de dados.


MAS AFINAL, O QUE PODEMOS FAZER AGORA PARA OLHAR E CUIDAR MAIS DA GENTE DURANTE O PERÍODO DE FESTAS?

A psicóloga Quilliam afirma a necessidade de compartilhar mais o peso do trabalho emocional. Isso, em última instância, trará recompensas para os homens, diz ela, como as “recompensas do desenvolvimento pessoal, de ser compassivo e de fazer as conexões que surgem nesse trabalho”. Ela aponta estar vendo cada vez mais homens que desejam assumir um pouco a carga emocional, embora eles não sejam necessariamente condicionados socialmente da mesma maneira que as mulheres desde a infância.

Quilliam explica:

“Logo no início da vida, assim que a criança consegue entender as palavras e captar comunicação não-verbal, os meninos são ensinados que não precisam cuidar de suas próprias emoções, mas apenas lutar, competir e, portanto, que não é apropriado cuidar de outras pessoas ou coisas também.”

I

sso, curiosamente, me leva novamente para as 11 horas de reclusão dos homens durante as festividades. E vem a dúvida se o inconsciente coletivo de egoismo que ficou implícito em cada pesquisa seria fruto de um desequilíbrio na construção da sociedade: onde o masculino foi criado para priorizar o seu desejo pessoal e não alimentar sentimentos como de culpa, principalmente em períodos como o Natal; enquanto às mulheres foi dada a sobrecarga de gerenciar as necessidades do período e das pessoas ao seu redor.

Para todas e todos, o período festivo é igualmente repleto de responsabilidades emocionais e expectativas estereotipadas a serem administradas que, por vezes muitas, não estamos preparados. A diferença está, mais uma vez, na cobrança externa social que recai sobre a figura da mulher. A sociedade aderiu novos costumes e atende novas necessidades de demanda, todavia não parou para rever a forma como lida com a nova mulher.

A necessidade do equilíbrio existe. E, cá entre nós, chegou a hora de reorganizar quem fica responsável pela montagem da árvore de Natal da família. Afinal, o que nos impede?